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sábado, 5 de março de 2011

A Igreja Matriz de São Pedro de Caririaçu!

A Paróquia do orago da urbe de Caririaçu teve seu nascituro em 9 de novembro de 1870, consoante a lei Provincial nº 1.362, com a denominação de Paróquia da Serra de São José.
Na época o ínfimo povoado ostentava o nome de São José, só alguns anos mais tarde é que a vilazinha passou a ser chamada de São Pedro, a célebre “Serra de São Pedro”, por motivo de que a povoação encontrava-se no cimo da serra do mesmo nome. Destarte o primeiro dos apóstolos se tornou o padroeiro da cidade.
Quando na povoação não havia nenhuma capela, as celebrações católicas aconteciam em casa particular, onde hoje funciona a Câmara dos Edis, realizadas pelo padre cratense Manoel Carlos da Silva Peixoto.
Porem esse mesmo padre projetou uma pequena capela em 1864, sendo ele o seu primeiro curador. Ele foi sucedido pelo reverendo missão-velhense Manoel Rodrigues de Lima. O terceiro padre da capela foi João Carlos Augusto, de Lavras da Mangabeira e o quarto foi o Pe. Cícero Romão Batista. O cearense do século foi nomeado vigário de São Pedro em 21 de setembro de 1888 e tomou posse em 29 de janeiro de 1889, exerceu essa atribuição até 6 de agosto de 1892.
Nesta época ele já ostentava o seu séquito e alguns de seus seguidores igualmente subiram a “Serra”. Conta-se que havia um agrimensor responsável pela acomodação das famílias e o local onde se houve maior concentração dos fieis do “Padim Ciço” foi nas proximidades dos atuais Conjuntos Santo Antonio e Padre Vicente.
O quinto sacerdote foi o assareense Antônio Alexandrino de Alencar e o sexto, Augusto Barbosa de Menezes. Nascido em Jaguaribe, foi nomeado vigário de São Pedro em 22 de fevereiro de 1897 e tomou posse em 28 de março. Esteve na vanguarda da freguesia durante 38 anos, até a sua descida ao túmulo em 1935. Alguns dos livros de cabeceira do padre encontram-se no Museu Nogueira Machado.
O Pe. Augusto veio para Caririaçu a conselho do médico Ildefonso Correia Rolim[1] para se tratar da sua saúde já um tanto abalada. Destarte, a vinda do núncio para a Serra teve dupla finalidade: representar o clero e recuperar sua saúde. Isso é a prova cabal de que a cidade de Caririaçu foi e continua sendo um nosocômio a céu aberto encravado no sertão do tórrido Nordeste.
Depois vieram os padres Francisco das Chagas Barros, Limeira, João Linhares de Lima, Vicente Alves Feitosa, entre outros.
A simples capelinha projetada pelo padre Manoel Carlos da Silva Peixoto foi sumariamente reduzida a escombros para em seu lugar ser edificada o imponente templo da cristandade que se conhece hoje em dia.
Interior da Igreja
Assim aconteceu a projeção da igreja matriz de São Pedro de Caririaçu: numa tardinha como qualquer outra do ano de 1918, passa pela vila de São Pedro um engenheiro civil com destino ao Crato. Só que na tal vila não havia hospedagem e o viajante foi informado que o padre Augusto poderia lhe hospedar durante o pernoite. Assim foi feito e o engenheiro e foi recebido polidamente pelo sacerdote. Na manhã seguinte o engenheiro interpelou o locador quanto lhe custaria à hospitalidade, o padre falou-lhe então que os seus serviços não eram pagos com dinheiro e então o forasteiro ofereceu-lhe os seus serviços. O padre não perdeu tempo e aproveitou a oportunidade e pediu-lhe uma planta de uma igreja que ele pretendia erigir no lugar da simples e acanhada capela. Os dois se dirigiram ao local, fizeram as medições e o engenheiro foi embora em direção ao seu destino. Cerca de um mês depois ele enviou a planta do templo ao padre.
Para o dispendioso labor foi criada uma comissão para dar encaminhamento aos trabalhos. Ela vez por outra perpetrava alguns folguedos para angariar recursos. Estavam na vanguarda dessa comissão, Afonso de Oliveira Borges[2] e Carlos José de Morais, ambos respectivamente seriam prefeitos da cidade (o primeiro em 1935 e segundo de 1936 a 1947) e, também Raimundo Correia de Araújo e o tesoureiro Ildefonso Rolim.
João Marques, pedreiro, cavou e encheu os alicerces e mestre Sebastião erigiu o resto da alvenaria.
Todo o material usado no templo foi fruto de doação, como por exemplo, a madeira do teto foi doada pelo Cel. Francisco Botelho Filho[3] e das portas José Gomes do Sítio Constantino. Essas madeiras, os tijolos e telhas foram carregados pelo povo e em animais. Contudo as portas foram feitas por José de Freitas, da cidade de Barbalha, cobrando cem mil réis cada.
Altar-mor da igreja
A labuta iniciada em 1920 e procrastinou-se até 1925.
Há na igreja duas estátuas de São Pedro, uma pequena levada em charola nas procissões comemorativas do orago da urbe de Caririaçu e, outra imóvel, fixada no altar-mor do templo. Esta última encerra uma curiosa história. Sua chegada à Serra de São Pedro aconteceu nos anos 20 do século XX. Ela foi adquirida pelo Pe. Augusto em Paris, capital francesa. A estátua foi trazida pela Estrada de Ferro de Baturité[4], todavia chegando lá só havia uma maneira de transportá-la até Caririaçu, por causa de seu tamanho, peso e distância de 180 km. E esta maneira seria nos ombros de homens. Isto não foi nenhum óbice, pois logo varões se dispuseram para perpetrarem a empreitada.
Praça Pe.augusto e  Igreja de São Pedro
A imagem foi recebida com muita folgança, entretanto com um fato estapafúrdio que vale ser lembrado: a imagem tem seu braço direito desmontável e veio separado do resto corpo. Quando foi aberto o ataúde onde se encontrava a estátua veio à surpresa, ela estava sem o braço. Os adultos lamentaram com os olhos marejados e as crianças pilheriaram: São Pedro é cotó. Porem o braço estava noutro caixão e não podia vir fixada ao ombro por causa da sua posição. Elucidada a questão, o alívio foi tremendo e os folguedos prosseguiram.
Hoje em dia a matriz continua imponente, bem centro da nossa e é o principal cenário para as manifestações clericais na cidade de Caririaçu. Um fato observável e curioso é que todas as artérias que dão acesso a igreja são inclinadas. Não é sabido o motivo da escolha desse local para o empreendimento, quiçá seja fruto do intelecto do padre Manoel Carlos da Silva Peixoto, com a mira de aproximar o poder terreno da igreja e seus seguidores com a Divindade.


[1] Um dos peritos que examinou os panos ensangüentados que foram usados para limpar as hóstias que teriam virado sangue na boca da beata Maria de Araújo. Ele também era pai de Ildefonso Rolim, interventor da urbe na Revolução de 30.
[2] Irmão do ilustre advogado e escritor Raimundo de Oliveira Borges.
[3] Administrador da Fazenda Boris, Localizada na Serra Verde.
[4] Primeira ferrovia do Ceará, ela ligava o interior ao porto de Fortaleza.