Por Antonio Messias
O nosso nordeste
brasileiro é muito conhecido por suas tradições. Estas em geral retratam a
cultura da nossa população, e isto não é muito diferente na nossa Serra de São
Pedro, situada no sul cearense e participante da Região Metropolitana do Cariri
(RMC). Caririaçu é uma cidade interiorana, e de pequena população, 26.393 de
acordo com o censo do IBGE de 2010. Gente que vive sua cultura e que revive a
cada instante um pouco do seu passado, embora isso acabe se perdendo ao chegar
das novas gerações, fator este auxiliado com a chegada da globalização.
Uma das maiores
tradições do Nordeste são as quadrilhas juninas. Assim como existem outras
culturas que também são só nossas como por exemplo o maneiro-pau, a festa dos
caretas, as renovações, as bandas cabaçais, o reisado, algumas brincadeiras
infantis, entre outras. Culturas que são vividas aqui no interior nordestino, e
agora também na RMC. E que Caririaçu também vive e revive.
Uma destas tradições é
o culto à Maria, em especial aqueles que são realizados no mês de maio. Esta é
uma celebração tipicamente católica, fruto da nossa formação histórica e
importação do catolicismo.
O mês de maio é
conhecido por suas datas comemorativas, em especial o dia das mães, que é
comemorado no segundo domingo do mês. Em alusão ao dia das mães, neste mês
também se comemora, o dia de nossa senhora, mãe de um daqueles que mais se
conhece em toda história humana: Jesus Cristo.
A única diferença é que
a comemoração se dá no mês inteiro, onde uma série de celebrações são feitas.
Por isso dizemos que o mês de maio é o mês de Maria, pois é a ela que se dedica
este mês inteiro. Mas o seu dia especial é 13, como bem diz o trecho do bendito:
“A 13 de maio na cova
da guia
No céu aparece
A virgem Maria
Ave, ave, ave Maria...”
Durante os 31 (trinta e
um) dias do mês de maio reza-se um terço que é oferecido à nossa senhora. Todos
os dias são colocados flores no altar, como oferenda à santa, e as que são
retiradas são guardadas para serem usadas no ultimo dia de celebração. Além das
flores, o altar é iluminado por velas que são também vistas como oferendas
neste ritual.
No ultimo dia de festejos, é realizado uma grande festa. Onde toda a comunidade se reúne para rezar em frente ao altar e participar dos demais ciclos. Depois do terço, todos se reúnem em volta de uma fogueira, e cantando alegremente dão voltas sobre esta. Ao mesmo tempo em que são queimadas todas as flores que foram antes recolhidas.
Às voltas na fogueira,
e ao sentir a fumaça, cantando e rezando aqueles que participam do festejo
pedem e agradecem a nossa senhora.
Depois de deste ciclo,
todos voltam cantando de frente ao altar para aclamar e exaltar a Nossa Senhora
e aos demais santos e santas que vivem e reinam no céu, e, até mesmo, na terra.
Agradecem a Deus por tudo, e também pedem saúde, paz, harmonia e felicidades.
Em seguida todos se reúnem para compartilhar um momento de encerramento, onde
geralmente se é oferecido um café, um chá acompanhado de biscoitos e bolos
feitos artesanalmente, que também representam manifestações populares da nossa
cultura.
Citamos como uma das
pessoas que dão continuidade a esta tradição Dona Maria Joana, que mora desde
1947 na comunidade Bois, localizada na Zona Rural de Caririaçu. Casou-se com 16
anos. Onde estabeleceu sua família, e esta sempre vive nesta comunidade.
Ela conta que reza o
terço em oferecimento a Maria há aproximadamente quatro décadas. Ela retratou
que outras famílias também o faziam, um exemplo eram as Bentas e também D.
Jesus que também moravam na comunidade.
Dona Maria é ‘rezadeira’,
é ela quem é a responsável por tirar as renovações (entenda o que é renovação) na casa da maioria das
famílias da comunidade Bois e até mesmo nas comunidades vizinhas como Francisco,
Faustina, Cachoeirinha, Patos, Constantino, Borís[1].
Ela é considerada um ícone nestas comunidades, devido aos trabalhos que
desenvolvera durante muito tempo na comunidade, como exemplificações destas
atividades têm-se: ‘rezadeira’ (como citamos anteriormente), agente de saúde e
parteira.
Ela conta que traz isso
da raiz da sua cultura familiar, e teme que essa tradição não seja seguida
pelos seus descendentes.
Enfim, é muito bom ver
como essas culturas são vividas, e retratadas na simplicidade do nosso povo. E
ver que apesar das tecnologias, e deste mundo altamente acelerado, ainda
vive-se tempos de reunião, pois além de cultuar o divino esta crença popular
une todo um grupo de pessoas, dando o verdadeiro sentido do que se é comunidade.
[1]
Sítio Borís: homenagem à família francesa Borís que era proprietária da Fazenda Serra Verde no município de Caririaçu.