O sistema de
governo brasileiro é considerado representativo, os eleitores votam no
candidato que melhor representa seus anseios e questionamentos, a sua
ideologia. Mas será que isso realmente funciona? Será que os candidatos eleitos
representam a população que lhe confiou o voto? Até certo ponto, representam
sim. Basta notar os evangélicos, os ruralistas, os homossexuais, os
ambientalistas, sendo “representados” nas discussões políticas. Esses segmentos
da sociedade são representados sim.
Entretanto tem
um segmento que fica de fora. E qual seria? Nós, os pobres, os que vivem
pendurados no crediário e que, se o salário atrasar no fim do mês, não sabe
como vai alimentar sua família. Os representantes do povo, não representam os
pobres, constatação mais do que óbvia.
Eu já escrevi
noutra oportunidade, que um pobre não consegue nem se eleger vereador na Serra
de São Pedro e, se candidatar-se, será motivo para pilhéria de seus
semelhantes. Pobre que se candidata até parece o Judas e deve ser estripado por
causa da sua vontade de representar a sua classe. Lavagem cerebral e ideológica
da mulesta, ainda há quem afirme que não existe o abuso do poder econômico. Só
quem tem legitimidade para ser candidato é quem pode aliciar votos
economicamente. Eis uma verdade inconveniente. Se pobre não é eleito,
logicamente que também não é representado. Se fosse representado, seria uma
contradição. Eis aí um dos filhos do enlace matrimonial entre democracia
representativa e capitalismo.
Segundo Antônio
Augusto de Queiroz, analista político do Departamento Intersindical de
Assessoria Parlamentar (Diap), é estimado que os gastos de campanha para se
eleger um deputado estadual, são R$ 500 mil, e um federal R$ 1 milhão. Esse
dinheiro poderia ser do próprio candidato ou de doações de simpatizantes. Um
pobre nunca terá esse dinheirão todo e as doações que ele recebe são somente o
assistencialismo do governo e a promessa de uma vaguinha no Reino de Deus, isso
se for um bom menino nesta terra de gigantes. Eu num sei não, mas tenho quase
certeza que os males da caixa de Pandora vieram somente para os pobres.
Partindo desse
pressuposto, da constatação que nossa cidade é uma urbe paupérrima e da
observação que toda eleição para deputado, eles se dirigem até aqui somente
para conquistar o nosso voto e desaparecer no oco do mundo, por que não votamos
num candidato caririaçuense para defender nossa cidade nas assembleias
estaduais e federais? Lógico que ele não estaria lá para defender
exclusivamente a Serra de São Pedro, bastava que as suas emendas parlamentares
fossem destinadas ao progresso da nossa cidade e do nosso povo. Já pensou na
alocação de recursos que isso traria? Certamente isso seria um grande auspicio
para essa ralé que nunca experimentou plenamente o progresso.
Enquanto a isso,
a falta de progresso, basta notar a famigerada inauguração de um orelhão e a
querela entre a situação e um agente da oposição, que na época, começo de 2012,
reivindicavam a autoria do projeto que trouxe a grande obra de um telefone
público. Pense numa lapa de
progresso.
Todos os anos
que se tem eleições estaduais e federais, aparece em Caririaçu, pessoalmente ou
através de seus cabos eleitorais, postulantes a salvadores do sertão esquecido.
Eles podem até ter boa intenção e almejarem o bem comum, mas depois da votação
e de alguns votos conquistados, os caba
somem no oco no do mundo e só retornam quando um novo pleito se aproxima. Eles vêm
com a cara de cachorro que lambe panela, como diria minha saudosa vovó,
mendigar novamente os nossos votos.
Ao que se
observa, nossa cidade parece uma colônia de votos. Assim como as Índias
serviram especiarias à Europa, a África serviu mão de obra escrava para o Novo
e o Velho Mundo, o Brasil serviu minérios, cana-de-açúcar, borracha, café, entre
outros produtos, para as potências europeias, Caririaçu só serve para servir os
seus votinhos para esses defensores de outras causas que não são aquelas necessárias
ao nosso progresso.
O último censo realizado
nas terras de Ibirapitanga (nome que os índios chamavam o pau-brasil, planta
que batizou o país), em 2010 e no qual, este escrevinhador teve a experiência
de trabalhar como coletor de dados, apontou que a população da Serra de São
Pedro correspondia a 14031 urbano e 12362 rural, totalizando 26393 habitantes. Desse
total, 20290 eram pessoas que estavam aptas a transferirem para outrem a sua
pequena parcela de poder. De lá pra cá, certamente a população aumentou e seu
número de eleitores também, e conseguir uma fatia desses votos é de grande valia
para qualquer postulante.
O problema é que
a nossa cultura está viciada em valorizar e a atribuir crédito somente ao que
vem de fora, não a cultura de Caririaçu, mas a nacional. Como diz uma canção
dos Titãs (A melhor banda de todos os tempos da última semana), “um idiota em
inglês/ se é idiota é bem menos que nós/ um idiota em inglês/ é bem melhor do
que eu e vocês”. Desta maneira é muito mais fácil apoiar um forasteiro do que
um nativo.
O povo são pedrense sempre votou em deputados
de fora. Estimado leitor, desculpe a minha ignorância, mas tem alguma coisa boa
e palpável que você, sua família e seus amigos usufruem que subiu à Serra
puxados por eles? Uniforme de futebol não devem entrar nessa lista, embora o
incentivo ao esporte mereça aplausos. Lógico que há algumas obras louváveis,
mas se comparando com as que poderiam ser com deputa nosso lá, são incomparáveis.
Agora entra na baia os tecnocratas, burocratas e
entendidos da política. Certamente eles dirão que essa moção é uma divagação e
não é possível eleger um deputado somente com os votos de Caririaçu, pois o
quociente eleitoral, político, a legenda, as alianças e o programa do partido,
a cotação do dólar, o preço inflacionado do voto, a plataforma da campanha, a
mensagem subliminar, o luxo das igrejas, o beijo gay da novela, o gol anulado,
a luz amarelada do poste e o “carái de asa”, seriam um grande empecilho. Os
argumentos variariam dos mais lógicos aos mais estapafúrdios. Mas isto poderia
ser resolvido com um partido pequeno e de pouca representatividade. O pior
problema não é este, o que quebra a bola mesmo, é encontrar um cidadão que
conquiste os dois grupos políticos reinantes, que no fundo são tão iguais e só
acreditam em heróis e antagonistas diferentes e mudam de lado conforme o benefício que lhe é atribuído. Quem pode ser o semideus que seduziria esses e aqueles
que não se sentem contemplados pelas suas ideologias?
Que se fale, se
discuta, que venham os “eu acho isso, eu acho aquilo”. Para quem tentar refutar
tal proposição, apresente uma melhor que possa libertar nosso chão desse
marasmo e que caminha com passos de uma tartaruga com fome e com preguiça no
rumo do progresso.
Se nós fizermos
o que foi exposto, podemos até não conseguir o objetivo, entretanto, é possível
que viremos objeto de estudo de algum de sociólogo, cientista político,
antropólogo, cientista social, historiador, ou outros cabocos metidos a sabido que tentarão, à luz da sua ciência,
entender esse fenômeno.
Isso pode até
ser doidice. Se for, endoide também e diga como se faz para trazer o progresso
para essa terra banhada pelo sol, mas que é desprovida de luz. Todo mundo tem a
solução na ponta da língua, diga a sua. Desça da liteira da lucidez que é
carregada no lombo do medo de errar e ser refutado.
Se o progresso
deverá chegar através da iniciativa privada, por que ela nunca se interessou
pelo nosso Caririaçu?
PS: Os próceres políticos de nossa comuna, que por
ventura me derem a honra de serem meus leitores, e que certamente apoiarão e
pedirão votos para candidatos de alhures, por favor, não vejam essa moção com
as lentes míopes da politicalha e nem levem para o lado pessoal. Isto é apenas
“um sonhador maginano”. Se o que as suas excelências almejam é ver essa cidade
prosperar, não tem como nós sermos antagonistas.
PS2: Os soldados ideológicos, aduladores e interesseiros, por favor, não saquem
a arma no salão, eu sou apenas o escrevinhador[1], aquele que relatou
toscamente uma verdade inconveniente.
Texto rico e cheio de verdades e muito sentido. Parabéns meu caro!! Uma hora dessas esses texto poderiam ser colocados em papel (mesmo que papel A4) e poderia ser distribuído nos comércios, por exemplo, ou nas praças. Aí aquelas pessoas que não têm acesso à internete poderia alcançar a mensagem de escritos de rara nobreza e igualmente verdade.
ResponderExcluirCélio Mendonça
Professor e poeta.
errata:
ExcluirTexto rico e cheio de verdades e muito sentido. Parabéns meu caro!! Uma hora dessas esses textos poderiam ser colocados em papel (mesmo que papel A4) e poderiam ser distribuídos nos comércios, por exemplo, ou nas praças. Aí aquelas pessoas que não têm acesso à internet poderiam alcançar a mensagem de escritos de rara nobreza e igualmente verdade.
Célio Mendonça
Professor e poeta.