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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Safra de Eleição


Como diz o poeta das coisas do sertão, Jessier Quirino, chegamos à época da safra de eleição. As candidaturas estão soprando benesses ao sabor dos ventos.  Elas exaurem os termos honestidade e trabalho. A história da humanidade mostra que essas duas palavras sempre estiveram presentes nos discursos dos “messiânicos” que diziam que iam livrar os governados da tirania. Mas o que se observa é miséria, fome e ganância. Desde a gênese da propriedade privada, honestidade e justiça social nunca mais existiram. Ambas foram sepultadas com o bem comum.
Porém, este período de consulta ou de compra do povo, deixa evidente uma verdade inconveniente. Vivemos numa sociedade extremamente pobre, tem amigos nossos que só comem carne quando mordem a própria língua. Contudo, na contramão disso, só elegemos pessoas que se não são literalmente burguesas, mas pelo menos são abastadas.
Esse sistema de escolha, também chamado de eleição, surgiu provavelmente na Roma antiga.
Lá propuseram que pessoas candidatassem-se com o objetivo de gerenciar a coisa pública e torná-la um serviço mais acessível e que atenda ou amenize as mazelas da sociedade. Assim, essas pessoas chamadas de candidatos se submetem ao julgo popular.  Mas esse sistema como o conhecemos hoje, surgiu por volta do século XVII na Europa e América do Norte com o advento dos governos representativos.
Entretanto nos dias que presenciamos, esse julgamento do populacho sofre com grilhões invisíveis que lhe condiciona o direcionamento da sua escolha.  
Para se chegar a transmitir a sua parcela de poder a outra pessoa há alguns elementos conhecidos e desconhecidos.
Primeiro, somos bombardeados pela ideia subliminar e fajuta de que só sabe governar quem é rico ou abastado, ou seja, nós pobres inconscientemente negamos a nossa própria classe social[1]. Por isso um pobre quando se candidata, ao invés de ser estimulado para lutar em favor de sua classe, é escarnecido por cidadãos iguais a ele. Destarte só votamos em pessoas com certo nível de bens materiais para que ele defenda a sua classe e oprima a classe inferior. Oprimir? O termo é oprimir mesmo, pois Maquiavel, considerado o maior estudioso sobre política que o mundo já viu, disse no O Príncipe, sua obra principal, que todo sistema de governo engendrado pelo homem, há duas vontades antagônicas: o arbítrio do governante de dominar e oprimir e o desejo do povo de não ser dominado e nem oprimido. Já Marx disse no seu Manifesto do Partido Comunista que o governo moderno é o comitê para gerir os negócios da burguesia.
Segundo, o nosso modo de produção nos faz uma lavagem cerebral e diz que nós só somos fracassados (pobres) porque não nos capacitamos suficientemente para aproveitar as oportunidades que existem e que o mercado nos oferece. Será que há sete bilhões de empregos ociosos? Tal oportunidade consiste em vender sua força de trabalho para gerar lucros demasiados para o dono da empresa, através da mais-valia[2]. Novamente pobre não vota em pobre. Só quem tem idoneidade é quem tem dinheiro, quanto mais dinheiro melhor administrador será. Viva o dinheiro, o Zeus do nosso Olimpo.
O poder emana do povo e em seu nome é exercido, isso não faz nenhum sentido na sociedade caririaçuense passada e ainda contemporânea. Aqui o poder emana é de quem tem dinheiro e é exercido em nome de algumas poucas oligarquias.
Assim, infere-se que eleição em Caririaçu é um embate de classes sociais, onde a ralé não tem consciência desse conflito. Como dizia Marx, a luta de classes é o motor da história. Nessa ocasião a classe abastada, consciente ou inconsciente, ludibria a paupérrima.  Para verificar esse fato basta observar quem são os principais candidatos... São empresários, não é mesmo? Porém não sou contra os empresários, pois também sou uma vítima do desejo de ascender materialmente. Tenho aversão é ao poder e aos seus conchavos, conciliábulos, menoscabo e suas implicações tirânicas.
Desta forma, na época das campanhas eleitorais poderíamos ter uma boa discussão sobre esse assunto da servidão voluntária da sociedade para com os postulantes a gerir res publica.
Entretanto, para manter esse sistema de dominação da classe rica sobre a plebe rude surdem as barganhas eleitoreiras.
Não é segredo para ninguém que o que move e alimenta o nosso sistema de escolha dos governantes é a compra de votos e o clientelismo.
Muitas pessoas são vítimas daquela ideia que diz que “só na época de política pobre tem valor”. Enquanto algumas pessoas insistem em pensar assim, outras engendram arquétipos ideológicos para que você continue no deleitamento da sua ignorância. Pobres idiotas não sabem que política é análogo ao envelhecimento, um processo ininterrupto.
Não é só nesta época que pobre tem valor, noutros períodos é a ralé que não se autovaloriza e é catequizada por esse conceito que mascara e sugere outra realidade. Destarte quando chega o período eleitoral ela, a ralé, adentra no rolo da corrupção.
Nós, os escravos do capitalismo nos corrompemos porque trocamos o nosso voto por uma simples promessa, algumas cédulas, alguns tijolos, alguns grãos de areia, alguns sacos de cimento, algumas toras de pau, combustível, um churrasquinho e por aí vai... Dizem que nessa época temos que aproveitar, afinal “os políticos só se lembram que existimos nesses tempos”, o bom e velho jeitinho brasileiro.  Oh, admirável mundo novo de criaturas tais!
Todavia, você que troca o seu poder de escolha por alguns desses elementos é você mesmo quem é o mecenas dessa corrupção que nos tortura. Quando a televisão mostra a devassidão da politica nacional você fica indignado, furioso, e se pergunta como eles fazem isso com o povo? Afinal, está sendo roubado com os dois pés e as duas mãos o acúmulo de nossos impostos que deveriam ser revertidos em melhorias sociais. Pois não se zangue os corruptos são apenas o reflexo do que somos. Sujeitos que queremos levar vantagem em tudo e que se não roubarmos e se quisermos levar uma vida de honestidade, seremos logo rotulados de energúmenos. Quem não rouba é um imbecil, calhorda e velhaco. Quem quer ser honesto nessa moderna civilização, pode se preparar para ser hostilizado e pilheriado por seus semelhantes. Honestidade hoje soa até como autoflagelo.
Parece existir uma inversão de funções: observa-se que existe um inconsciente coletivo na sociedade de que a população deve está a serviço dos personagens eleitos, quando na verdade era pra ser literalmente o contrário. Traços de uma sociedade historicamente servil e masoquista.
Mas existe uma contradição aí: como que uma pessoa diz que estar candidata para ajudar o povo se ao mesmo tempo ela oferece elementos ilícitos para adquirir a confiança do povaréu? Tá faltando ideias senhores candidatos? Ou se aproveitar da falta de saber do povo é melhor? Hein? Hein? Hein...?
Meio antagônico isso, será que quando chegar ao poder ela não irá apenas querer dominar as classes infames e reaver as saídas de seu cabedal de injustiças e espertezas?
Contudo, você que está lendo essas tolas palavras e imaginando que o seu autor deve ser um otário e falso moralista, talvez ela seja realmente isso. Afinal, “cada um tem o seu ponto de vista/encare a ilusão da sua ótica” [3].
Se for prostituir o seu voto, prostitua. Mas prostitua o seu direito de lutar contra as injustiças, seu direito de voz, sua atitude de lutar contra as inópias, o médico e o professor do seu filho. Prostitua tudo isso, mas venda muito caro e não venda para se tornar uma marionete de quem te comprou e não servir de pilhéria para outro que se prostituiu mais caro.
Venda o seu voto, assim você perceberá que estão te tratando literalmente como porcos e dando lhe exíguas migalhas de um osso ruído, enquanto o filé untado de injustiças está sendo degustado em pomposas mesas e talheres de porcelana em ambientes onde o povo não deve ter acesso.
Não sei quem será o vencedor desta contenda “democrática”, mas certamente não será o povo e sim uma pequena minoria que já tem mais do que o suficiente para sobreviver nessa selva capitalista e nós, a mundiça, continuaremos sendo somente a mundiça. Quem vencerá é quem soube negociar melhor, porque os candidatos que aí estão enxergam na politica um negócio altamente lucrativo, afinal eles são empresários e pequenos burgueses e assim o lucro está bem acima da dignidade humana.
Quem deveria se interessar pela política não tem o mínimo interesse e isso proporciona aos abastados medrarem o seu patrimônio de maneira legitima.
É como se estivesses numa tempestade diluviana e só existisse um guarda-chuva. Pelo o que se observa, não cabem nele todos àqueles que almejam se proteger. Ele suporta apenas uma minoria e a maioria fica exposta aos dissabores do temporal. Mas ele poderia muito bem ter os seus sustentáculos alargados, bastaria à instrução do povo para isso.
O que significa esse guarda-chuva? Por que ele não abarca todos os necessitados? E o temporal, que é? Quem é a minoria? E você, amigo leitor, está protegido das intempéries?

PS: Política não se trata de saber em quem seu vizinho, amigo ou parente irá votar, isso é cuidar da vida dos outros.

PSS: Chegado o dia da eleição irei votar, irei sim, tenho que ir. Mas vou com a letargia de uma tartaruga indolente, pois não vejo nenhuma perspectiva de melhora em digitar números num aparelho eletrônico. Sei que eu votando ou não, nada mudará e o povo vai continuar sendo humilhado, massacrado, explorado e manipulado por algum desses senhores que se apresentam com as alvíssaras da injustiça (não é nada pessoal, injustiças por causa das incongruências da representatividade). Herdeiros do fim do mundo gostaria imensuravelmente que isso não fosse verdade.

PSSS: Mesmo sabendo que quem escreveu essas palavras se lascou do primeiro ao quinto em uma sociedade bitolada e em que pobre não deve pensar, deve apenas servi, esse pequeno artigo foi um mal necessário.




[1] Camada da sociedade composta de indivíduos com bens e interesses materiais semelhantes.
[2] Trabalho excedente não remunerado e apropriado pelo dono da empresa.
[3] Trecho da música Ilusão de Ótica de Engenheiros do Hawaii

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